terça-feira, 27 de maio de 2025

The Cat Creature - O Amuleto Egípcio (1974)


A década de 1970 marcou um período de efervescência criativa no cinema e na televisão, caracterizado por uma produção abundante e, muitas vezes, transgressora. Em um artigo anterior sobre Apocalypse Now, por exemplo, detalhei como a emergência da Nova Hollywood revolucionou as convenções cinematográficas. Os filmes dessa época, de fato, parecem nascer de uma fusão inusitada, como "o fruto de uma onça com uma cascavel" — uma metáfora para a sua natureza lisérgica e a sua total dissonância com os padrões estabelecidos da indústria.

O Horror Visceral dos Anos 70

No universo do horror, os anos 70 também se destacaram pela sua originalidade e pela abordagem visceral. Um exemplo incontornável é O Massacre da Serra Elétrica (1974), dirigido por Tobe Hooper. Este filme, que ainda hoje evoca repugnância, causou um verdadeiro frenesi nos cinemas da época, estabelecendo um novo patamar para o terror. Sua crueza e a sensação de perigo iminente o tornaram um marco no gênero, evidenciando a ousadia dos cineastas daquele período.

A Caçada por Pérolas Obscuras e a Descoberta de O Amuleto Egípcio

No entanto, há filmes da década de 70 que exigem uma verdadeira "escavação arqueológica cinematográfica" para serem descobertos. São as "pérolas escondidas no fundo do mar", as joias de fino trato que se mantêm à margem do grande público. Para o entusiasta, a sensação de encontrar esses filmes mais obscuros é como desenterrar aquele VHS esquecido no fundo de uma videolocadora, um tesouro que poucos ousaram alugar. Embora a internet não replique a nostalgia de manusear uma fita física, ela se tornou um vasto acervo para essa busca, permitindo que a gente desenterre filmes que, muitas vezes, estão esperando para serem encontrados.

Foi exatamente nesse processo de "garimpo digital" que descobri The Cat Creature (1973), conhecido no Brasil como O Amuleto Egípcio. Dirigido por Curtis Harrington e produzido para a televisão, este filme é uma pérola totalmente obscura, que exemplifica a riqueza e a diversidade da produção cinematográfica da década de 70, mesmo para o formato televisivo.

O Amuleto Egípcio é um telefilme de horror que se destaca pela sua premissa intrigante e pela atmosfera construída. O enredo gira em torno de uma antiga maldição egípcia ligada a um amuleto em forma de gato, que se manifesta de forma sobrenatural no presente. A trama explora temas como a reencarnação e a vingança, misturando elementos de mistério com o sobrenatural. O filme se beneficia de um elenco notável para a época, incluindo Meredith Baxter, Stuart Whitman, John Carradine e Gale Sondergaard — esta última em um de seus últimos trabalhos, interpretando uma personagem central na teia de eventos macabros. Apesar de ser uma produção televisiva, Harrington consegue criar uma tensão palpável e um senso de urgência, utilizando recursos de câmera e trilha sonora que elevam a qualidade da experiência para além do que se esperava de um telefilme. A maneira como o terror é insinuado, muitas vezes sem a necessidade de gore explícito, reforça a maestria na direção e a capacidade de Harrington em explorar o psicológico para provocar o medo.

A experiência de encontrar uma obra como essa, até então desconhecida para mim, reforça a ideia de que a década de 70 foi um celeiro de produções singulares, muitas das quais ainda aguardam serem redescobertas e devidamente apreciadas, mesmo aquelas que não tiveram o lançamento cinematográfico tradicional.

 

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Qual é o seu filme de cabeceira?



Acredito que, para quem ama o cinema, ter um filme de cabeceira é quase inevitável. Seja qual for o gênero — suspense, drama, ação, comédia ou ficção científica — sempre existe aquele filme que transcende a tela e se torna uma parte de nós. É como se esses filmes representassem fragmentos de nossa história pessoal, dos momentos que vivemos e das emoções que nos marcaram.

O hábito de revisitar determinados filmes é algo que, para muitos, vai além do simples entretenimento. É um reencontro com algo familiar, quase como visitar um velho amigo. No meu caso, posso afirmar que os filmes que revejo com mais frequência são aqueles que moldaram meu gosto cinematográfico, me acompanharam ao longo da vida e, de certa forma, definiram quem eu sou.

Minha jornada no cinema começou cedo, lá pelos meus 5 ou 6 anos, quando fui apresentado ao mundo dos filmes — aqueles que a maioria das crianças adora. Com o passar do tempo, meu olhar para o cinema foi evoluindo. Descobri a profundidade dos filmes cult, a nostalgia dos clássicos e a beleza das produções que exploram temas atemporais.

Posso dizer que, para mim, cinema não é apenas uma forma de entretenimento. É uma arte que expande horizontes, desperta reflexões e, muitas vezes, nos transforma. Os gêneros que me cativam são os mais variados possíveis, indo do terror à ficção científica, do suspense à comédia pastelão, passando pelo western, drama e até romances. Essa diversidade reflete não só meu gosto, mas também minha curiosidade por diferentes formas de contar histórias.

Entre os filmes que considero de cabeceira, estão aqueles que, de alguma forma, mexeram comigo ou deixaram um impacto duradouro. São títulos como O Enigma de Outro Mundo, que redefine o terror psicológico, ou Cinema Paradiso, uma carta de amor ao próprio cinema. Há também os icônicos Scarface e Apocalipse Now, que exploram a complexidade humana de formas inesquecíveis, e os nostálgicos Os Goonies e Os Caçadores da Arca Perdida, que trazem aventuras que resistem ao teste do tempo.

Filmes como Eles Vivem, A Noite dos Arrepios, Fogo Contra Fogo, Dublê de Corpo, Quase Famosos, Taxi Driver, Barton Fink, A Noite dos Mortos Vivos e tantos outros também fazem parte dessa lista extensa. Não consigo deixar de pensar que, a cada filme que revisito, há um novo detalhe, uma nova camada que se revela, enriquecendo a experiência.

É interessante como esses filmes acabam se tornando uma espécie de refúgio. Quando assistimos, somos transportados para outros mundos, realidades ou épocas, mas, ao mesmo tempo, sentimos uma conexão profunda e pessoal.

E essa é a magia do cinema: ele é capaz de unir milhões de pessoas em torno de uma mesma história, mas, ao mesmo tempo, fala de maneira única com cada indivíduo.

Por isso, volto a perguntar: qual é o filme que marcou sua vida?