sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

As várias versões de Apocalypse Now



A década de 70 foi conhecida como a década que mudaria o jeito de se fazer cinema, foi a década da revolução cinematográfica. Cineastas independentes estavam à espreita do mainstream cinematográfico, só esperando a oportunidade de mostrar ao mundo como se fazer cinema de forma autoral, sem precisar dos grandes estúdios. Foi o movimento chamado na época de Nova Hollywood, ou New Wave, se preferirem, também conhecido como o Renascimento de Hollywood.

Foi a década que apresentou ao mundo diretores que entrariam para os anais da história do cinema, como George Lucas, Steven Spielberg, Sam Peckinpah, Francis Ford Coppola, Arthur Penn, Bob Rafelson, Dennis Hopper, Martin Scorsese, John Boorman, Peter Bogdanovich, Sidney Lumet, William Friedkin, Brian de Palma, Stanley Kubrick, entre outros. Para quem quiser de aprofundar no tema, tem um documentário lançado em 2003, intitulado Easy Riders, Raging Bulls e o livro Como a geração sexo drogas e rock ́n ́roll salvou Hollywood de 1998 de Peter Biskind.

Dentre várias produções como Easy Rider, dirigido por Dennis Hopper, filme ícone contracultural e que até hoje é objeto de culto e que mudou uma geração toda, Uma Rajada de Balas de Arhur Penn, Cada um vive como quer de Bob Rafelson, A Outra Face da Violência dirigido por John Flynn e um dos preferidos do cineasta Quentin Tarantino, Comboio do Medo de 1977 de William Friedkin, entre tantos filmes deste movimento, uma produção se destaca, e é dela que falaremos aqui nesta resenha: Apocalypse Now de 1979, do Sr. Coppola.

Não será necessário resenhar sobre sua importância para a sétima arte, e é chover no molhado ficar elogiando ou fazendo análises mais profundas acerca da película, uma vez que, em artigos anteriores, já havia mencionado que não sou crítico de cinema ou nenhuma pretensão a ser. O foco aqui é simplesmente sublinhar algumas diferenças entre as quatro versões que o filme possui.

Na época do seu lançamento, a versão que foi levada às telas foi a versão de cinema, contando com 153 minutos, uma vez que, grande parte das cenas foram cortadas para a edição final, sendo que o filme passou de seu orçamento e levou um ano para ficar pronto, percalços a parte, podem ser vistos no documentário lançado em 1991, Hearts of Darkness: O Apocalipse de um Cineasta, dirigido por sua esposa Eleanor Coppola.

Em 2001, foi lançado pelo diretor uma versão de 202 minutos, intitulada de Apocalypse Now Redux, e em 2019 uma versão chamada The Final Cut com 181 minutos, lançada a partir dos negativos originais, restaurado em 4K, sendo considerada pelo próprio diretor a melhor versão já feita.

A versão cheia ou melhor dizendo a edição sem cortes, como pode ser chamada Workprint, conta com 289 minutos de duração, um pouco mais de 5 horas, e jamais fora lançada, existindo apenas uma versão Bootleg em Betamax, com uma qualidade não tão boa, porém assistível. Uma versão que causará uma imersão total a obra-prima do diretor.

A partir deste ponto, teremos alerta de spoilers para quem nunca assistiu a obra, e citarei apenas algumas diferenças das outras versões.

Nesta versão, logo na cena inicial onde toca The End dos The Doors, a cena dura aproximadamente 10 minutos, mesclando imagens de Willard bêbado em seu quarto com uma prostituta, e ao fundo, sons das hélices de helicópteros nas selvas do Vietnã. Durante toda a projeção do filme, não existe trilha composta por Carmine Coppola, uma vez que foi optado por inserir várias canções da banda citada.

Não há narração em off nesta versão, os diálogos de Robert Duvall são ininteligíveis por causa das cenas com os helicópteros, as cenas com as Playmates da Playboy têm mais tempo em tela, e por aí vai e a lista é imensa de takes que não estão nas versões Teathrical, Redux e Final Cut.

A cena em que Willard recebe sua missão é mais longa e contém muito mais diálogo. O general informa a Willard que a missão é puramente voluntária e ele não pode recusá-la. O general também oferece a Willard uma promoção a major após a conclusão da missão. Por alguma razão, o Coronel Kurtz é referido nesta cena como "Coronel Leevy". Há algumas tomadas externas da base militar.

A cena onde toca a obra de Wagner, 'Ride of Valkyrie' é mais longa do que a versão original do cinema, aqui nesta versão a cena dura aproximadamente 30 minutos, mostrando muitas cenas não utilizadas e tomadas alternativas.

Nesta versão, existe uma cena de 10 minutos onde Kurtz lê o poema ‘The Hollow Men’ de T.S Elliot.

A cena em que Willard encontra Kurtz em seu quarto contém mais diálogos... já que Kurtz deixa claro que sabe por que Willard está ali.

Uma cena em que Kurtz conversa com Willard na gaiola de bambu enquanto duas crianças sentam em cima da gaiola e balançam insetos no rosto de Willard. Ele diz a ele que Willard é “como seus colegas em Washington, mestres mentirosos que querem vencer a guerra, mas não querem parecer imorais ou antiéticos”.

Essas cenas acima citadas são algumas das quais pertencem a esta versão de mais de cinco horas de duração. Lembrando que não existe lançamento oficial em nenhum formato de mídia, seja ela DVD, VHS, Blu-ray ou Laserdisc. Como disse em parágrafo anterior, é o Holly Grail das Workprints de um dos melhores filmes já feitos na história do cinema.

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