quarta-feira, 4 de junho de 2025

Blood Bath (1966): Pesadelo e Surrealismo

 


O filme em análise é uma produção de 1966, inicialmente dirigido pelo produtor e diretor Jack Hill, conhecido por trabalhar costumeiramente com Roger Corman, um dos maiores produtores de filmes B na história do cinema.

A película deveria ser uma espécie de thriller gótico e seria interpretado pelos atores William Campbell e Sid Haig, intitulado Operation: Titian, com locações na Iugoslávia (atual Sérvia), no entanto o estúdio American International Pictures, alcunha de AIP, conhecido por seus filmes de baixo orçamento e qualidade duvidosa, não ficou satisfeito com o resultado final e não considerava o título do filme muito comercial para o grande público,  eles pretendiam criar algo mais atmosférico e com um clima mais sombrio.

Então, deram uma tacada de mestre, não satisfeitos com a visão de Jack Hill, contrataram a diretora Stephanie Rothman para que refilmasse e adicionasse novas cenas a película. Rothman que também havia trabalhado com Corman, teve a dura tarefa de deixar o filme com um toque mais splatter e com mais gore, tentando alinhar aos filmes que o estúdio estava acostumado a lançar. Essa foi uma jogada incomum na época, pois Rothman foi uma das poucas diretoras femininas a trabalhar no gênero de terror durante esse período.

Como o filme teve mais de um diretor e com duas visões totalmente diferentes, virou uma salada, cenas sem conexão, diálogos que beiram o pastiche, virando uma mistura estranha do suspense gótico de Hill e do terror mais explícito de Rothman. A narrativa pulava de um lado para o outro, tornando-se confusa para alguns espectadores, mas também conferindo-lhe um charme peculiar de filme B.

A produção de Blood Bath é, portanto, um testemunho das práticas de estúdio da época, onde filmes eram frequentemente alterados e remendados para maximizar seu apelo comercial. Apesar de sua produção fragmentada, Blood Bath se tornou um item de culto ao longo dos anos, apreciado por sua história única e por representar um momento interessante na evolução do cinema de terror de baixo orçamento.

 

terça-feira, 27 de maio de 2025

The Cat Creature - O Amuleto Egípcio (1974)


A década de 1970 marcou um período de efervescência criativa no cinema e na televisão, caracterizado por uma produção abundante e, muitas vezes, transgressora. Em um artigo anterior sobre Apocalypse Now, por exemplo, detalhei como a emergência da Nova Hollywood revolucionou as convenções cinematográficas. Os filmes dessa época, de fato, parecem nascer de uma fusão inusitada, como "o fruto de uma onça com uma cascavel" — uma metáfora para a sua natureza lisérgica e a sua total dissonância com os padrões estabelecidos da indústria.

O Horror Visceral dos Anos 70

No universo do horror, os anos 70 também se destacaram pela sua originalidade e pela abordagem visceral. Um exemplo incontornável é O Massacre da Serra Elétrica (1974), dirigido por Tobe Hooper. Este filme, que ainda hoje evoca repugnância, causou um verdadeiro frenesi nos cinemas da época, estabelecendo um novo patamar para o terror. Sua crueza e a sensação de perigo iminente o tornaram um marco no gênero, evidenciando a ousadia dos cineastas daquele período.

A Caçada por Pérolas Obscuras e a Descoberta de O Amuleto Egípcio

No entanto, há filmes da década de 70 que exigem uma verdadeira "escavação arqueológica cinematográfica" para serem descobertos. São as "pérolas escondidas no fundo do mar", as joias de fino trato que se mantêm à margem do grande público. Para o entusiasta, a sensação de encontrar esses filmes mais obscuros é como desenterrar aquele VHS esquecido no fundo de uma videolocadora, um tesouro que poucos ousaram alugar. Embora a internet não replique a nostalgia de manusear uma fita física, ela se tornou um vasto acervo para essa busca, permitindo que a gente desenterre filmes que, muitas vezes, estão esperando para serem encontrados.

Foi exatamente nesse processo de "garimpo digital" que descobri The Cat Creature (1973), conhecido no Brasil como O Amuleto Egípcio. Dirigido por Curtis Harrington e produzido para a televisão, este filme é uma pérola totalmente obscura, que exemplifica a riqueza e a diversidade da produção cinematográfica da década de 70, mesmo para o formato televisivo.

O Amuleto Egípcio é um telefilme de horror que se destaca pela sua premissa intrigante e pela atmosfera construída. O enredo gira em torno de uma antiga maldição egípcia ligada a um amuleto em forma de gato, que se manifesta de forma sobrenatural no presente. A trama explora temas como a reencarnação e a vingança, misturando elementos de mistério com o sobrenatural. O filme se beneficia de um elenco notável para a época, incluindo Meredith Baxter, Stuart Whitman, John Carradine e Gale Sondergaard — esta última em um de seus últimos trabalhos, interpretando uma personagem central na teia de eventos macabros. Apesar de ser uma produção televisiva, Harrington consegue criar uma tensão palpável e um senso de urgência, utilizando recursos de câmera e trilha sonora que elevam a qualidade da experiência para além do que se esperava de um telefilme. A maneira como o terror é insinuado, muitas vezes sem a necessidade de gore explícito, reforça a maestria na direção e a capacidade de Harrington em explorar o psicológico para provocar o medo.

A experiência de encontrar uma obra como essa, até então desconhecida para mim, reforça a ideia de que a década de 70 foi um celeiro de produções singulares, muitas das quais ainda aguardam serem redescobertas e devidamente apreciadas, mesmo aquelas que não tiveram o lançamento cinematográfico tradicional.

 

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Qual é o seu filme de cabeceira?



Acredito que, para quem ama o cinema, ter um filme de cabeceira é quase inevitável. Seja qual for o gênero — suspense, drama, ação, comédia ou ficção científica — sempre existe aquele filme que transcende a tela e se torna uma parte de nós. É como se esses filmes representassem fragmentos de nossa história pessoal, dos momentos que vivemos e das emoções que nos marcaram.

O hábito de revisitar determinados filmes é algo que, para muitos, vai além do simples entretenimento. É um reencontro com algo familiar, quase como visitar um velho amigo. No meu caso, posso afirmar que os filmes que revejo com mais frequência são aqueles que moldaram meu gosto cinematográfico, me acompanharam ao longo da vida e, de certa forma, definiram quem eu sou.

Minha jornada no cinema começou cedo, lá pelos meus 5 ou 6 anos, quando fui apresentado ao mundo dos filmes — aqueles que a maioria das crianças adora. Com o passar do tempo, meu olhar para o cinema foi evoluindo. Descobri a profundidade dos filmes cult, a nostalgia dos clássicos e a beleza das produções que exploram temas atemporais.

Posso dizer que, para mim, cinema não é apenas uma forma de entretenimento. É uma arte que expande horizontes, desperta reflexões e, muitas vezes, nos transforma. Os gêneros que me cativam são os mais variados possíveis, indo do terror à ficção científica, do suspense à comédia pastelão, passando pelo western, drama e até romances. Essa diversidade reflete não só meu gosto, mas também minha curiosidade por diferentes formas de contar histórias.

Entre os filmes que considero de cabeceira, estão aqueles que, de alguma forma, mexeram comigo ou deixaram um impacto duradouro. São títulos como O Enigma de Outro Mundo, que redefine o terror psicológico, ou Cinema Paradiso, uma carta de amor ao próprio cinema. Há também os icônicos Scarface e Apocalipse Now, que exploram a complexidade humana de formas inesquecíveis, e os nostálgicos Os Goonies e Os Caçadores da Arca Perdida, que trazem aventuras que resistem ao teste do tempo.

Filmes como Eles Vivem, A Noite dos Arrepios, Fogo Contra Fogo, Dublê de Corpo, Quase Famosos, Taxi Driver, Barton Fink, A Noite dos Mortos Vivos e tantos outros também fazem parte dessa lista extensa. Não consigo deixar de pensar que, a cada filme que revisito, há um novo detalhe, uma nova camada que se revela, enriquecendo a experiência.

É interessante como esses filmes acabam se tornando uma espécie de refúgio. Quando assistimos, somos transportados para outros mundos, realidades ou épocas, mas, ao mesmo tempo, sentimos uma conexão profunda e pessoal.

E essa é a magia do cinema: ele é capaz de unir milhões de pessoas em torno de uma mesma história, mas, ao mesmo tempo, fala de maneira única com cada indivíduo.

Por isso, volto a perguntar: qual é o filme que marcou sua vida?


sexta-feira, 4 de abril de 2025

Mr. Wrong (1985): Uma requintada produção kiwi.

 


O filme analisado é uma obra produzida na Nova Zelândia, datada de 1985, que permanece praticamente desconhecida do grande público. Trata-se de uma produção peculiar, cujo tema explora o conceito de uma “casa assombrada”, embora a história não se desenvolva em uma casa propriamente dita, mas sim em um carro. O longa-metragem foi dirigido por Gaylene Mary Preston, uma cineasta com experiência no cinema documental. Baseado em uma curta história escrita por Elizabeth Jane Howard, o filme foi lançado nos Estados Unidos sob o título Dark of the Night.

A história gira em torno da personagem Meg, que compra um carro, um Jaguar, sem saber que o carro era de uma pessoa que foi morta dentro do veículo e sem saber que o veículo é assombrado, então ela começa a ser perseguida pelo assassino. Meg, a protagonista, é interpretada de maneira convincente, destacando sua evolução de uma pessoa comum para alguém que precisa lidar com situações extraordinárias. A conexão entre ela e o carro é central para o desenvolvimento emocional do filme, funcionando quase como um personagem adicional. A escolha do elenco reforça a autenticidade da história e transmite uma sensação de realismo em meio aos elementos sobrenaturais.

Gaylene Preston utiliza uma abordagem que mistura o banal e o bizarro, criando uma atmosfera de crescente tensão. A cinematografia destaca os ângulos e closes que enfatizam a relação simbólica entre Meg e o carro, enquanto a trilha sonora reforça a sensação de desconforto e suspense. A direção consegue equilibrar humor e horror de maneira inteligente, sem comprometer a seriedade das mensagens centrais.

Este é o tipo de filme que se você olhar o poster do filme, de primeiro momento, não se dê o crédito necessário ao filme, mas logo nos primeiros minutos de filme vemos que a produção é caprichada e com um enredo que prende o tempo todo, criando aquele frio na espinha a quem assiste ao filme.

Embora não amplamente conhecido, Mr. Wrong se destaca como um exemplo precoce de como cineastas podem usar elementos de gênero para abordar questões sociais. É um trabalho que ressoa com aqueles interessados em histórias que desafiam os limites entre o real e o sobrenatural, ao mesmo tempo que oferece um olhar introspectivo sobre o medo e a coragem.

Um filme que merece ser descoberto e quem sabe algum dia ser lançado em alguma mídia física, embora o mercado de mídia física no Bostil já estar indo ladeira abaixo.

Mas enfim, um filme altamente recomendável.

sexta-feira, 28 de março de 2025

Relatos de um fanático por filmes: A sogra dos sonhos e o VHS perdido

 

Sua sogra é aquele tipo de pessoa que quando pega no pé não sai?

E quando ela mete uma coisa na cabeça e ninguém tira?

Por essas e outras que cada um tem a sogra que merece!! Não é mesmo?

A minha, certa vez, encanou que queria rever um filme de 1983. As pistas que me foram passadas foram tão escassas que na época a única coisa que me salvou foi o Guia Multimidia de Cinema da Microsoft, alcunha de Microsoft Cinemania 97. Este guia contava com os últimos filmes até 1996 e foi descontinuado após esta última versão. O Guia vinha em uma mídia CD-ROM, em uma caixa bem bacanuda. Também tinha aqueles Guias de Cinema da Nova Cultural, o Vídeo Guia, que foi de grande ajuda.

Minhas únicas fontes de pesquisa na época foram os guias digitais da Microsoft e o Vídeo Guia 98, e a pista enigmática que minha sogra me deu de presente. A pista que me foi dada: tinha uma cena em que o príncipe levava a linda donzela por uma longa escadaria.

Mediante essa “significativa” pista, me postei a frente do computador que havia em minha locadora e com meu guia em mãos, lá fui eu descobrir o nome do filme. Humildemente confesso que em dois dias, mesmo com a escassez de informação pela internet, e que não foi de ajuda nenhuma, acabei descobrindo o nome do filme.

O nome do filme, no entanto, chama-se Sahara, de 1983, uma produção da Cannon Films. Uma tentativa de recriar o clássico Lawrence da Arábia. Mas que na verdade foi um desastre nas bilheterias. A única coisa que deixa o filme mais belo é sua bela trilha sonora composta pelo nosso querido maestro: Ennio Morricone.

Quando descobri o nome do filme e falei para minha querida sogra que o nome do filme era Sahara com a Brooke Shields, no auge de sua beleza, na hora, pediu para eu ver se a fita estava disponível para aluguel em alguma locadora.

Devo ter ligado no mínimo em umas cinco locadoras, naquela época devia ter mais de dez aqui na minha cidade, então pego o telefone e começo com a primeira, o telefone começa a chamar, a atendente do lado de lá da linha atende, pergunto se ela tem o filme tal, explico toda a história do filme, menciono quais são os atores, e a atendente numa má vontade de dar inveja diz: desculpe-me, mas não conheço este filme.

Na segunda locadora que ligo, o telefone chama, a atendente diz boa tarde, falo que procuro o filme tal, explico tudo novamente, nome do filme, sinopse, quais os atores, a atendente pede um momento, nesta hora meu coração deu uma gelada e então do outro lado da linha, houve uma quebra na conversa e ambos ficamos em silencio, de repente, a atendente volta, ela diz que tem o filme Sahara, mas da década de 1940, com o Humphrey Bogart.  

E lá na terceira ou quarta tentativas a chance de procurar o filme foi se esvaindo, e então aquela luz no fim do túnel se acendeu, a busca incansável pelo filme estava se encerrando. No auge do VHS, uma das melhores locadoras daqui da minha cidade, a Golden Room, que possuía um acervo gigantesco, em quantidade e qualidade, tinha o filme, só que o dono já era outro e o intuito, na época, justo na fase de transição do VHS para o DVD, era de dar fim no formato.

Lembro-me que pegamos o carro, fomos até a esta locadora, falei para a atendente que tinha ligado e que tinha ido para alugar a dita cuja, então ela abre uma porta dentro do estabelecimento, uma sala escura cheio de fitas, todas bagunçadas de uma forma que jamais tinha visto aquilo na vida, uma poeira do cão, tivemos que ver fita por fita, até que a encontramos e por sorte, acabei alugando também o filme Malcolm X, que ainda não tinha visto.

Depois de ter alugado a fita, vi que a mesma estava impecável, apesar de a capa estar muito suja, fiz toda a limpeza, e como na época meu gravador de DVD ainda funcionava, fiz aquela conversão caprichada para deixar guardado para que um dia minha linda e querida sogra pudesse rever.

Enfim, mais um relato de uma verdadeira caça aos filmes!!!